INTERIOR EM PAUTA
Nesta terça-feira (19/6) a Assembleia Legislativa recebeu o seminário Desigualdades e desafios no interior de São Paulo. Identificando a carência de pautas do interior paulista na Casa, a liderança do PT organizou o seminário que durou o dia todo e contou com presença de uma série de palestrantes.
Pela manhã, foi discutida agricultura no interior paulista, sobre diversos aspectos, e na parte da tarde questões da juventude prevenção de drogas, programas de conselhos tutelares, dentre outros (para ver o texto sobre juventude, acesse:
https://ptalesp.org.br/painel/e-noticia.asp?acao=13&id=9229)
A deputada Beth Sahão, líder da bancada do PT, que é da região de Catanduva, abriu o seminário destacando que o interior passa por grandes dificuldades relacionadas à agricultura, por exemplo, com escoação da produção.
Temos 200 mil quilômetros de estrada sem pavimentação e sem manutenção. O programa do Governo do Estado, Melhor Caminho, pavimenta mil quilômetros por ano. Demoraria 200 anos para completar a pavimentação, critica a deputada, falando do esforço da Bancada petista para elevar os reles 0,5% do orçamento do Estado relegados à Agricultura.
A Casa tem obrigação de fazer o debate e transformá-lo em propostas efetivas, transformar isso em área prioritária do governo. Pelos 0,5% investidos, vemos que hoje não é
A RESISTÊNCIA DOS AGRICULTORES FAMILIARES
José Justino Desidério Filho, que é agricultor familiar e faz parte da Federação da Agricultura Familiar do estado de São Paulo (FAF), mostrou sua preocupação com a falta de geração de renda no setor. Ele diz que com o orçamento de apenas 0,5% do Orçamento do Estado para a pasta, não é possível nem mesmo que os agricultores se organizem politicamente, como já ocorreu no passado.
Os agricultores familiares estão na berlinda. Com a construção de grandes centros, foram jogados para favelas e os agricultores da zona rural são resistência. O Governo de São Paulo é ausente, não resolve nem a regularização fundiária nem a questão da geração de renda, expôs José.
A deputada Márcia Lia, que é da região de Araraquara, relatou algumas das dificuldades que vê no interior, como a dificuldade logística dos agricultores fazerem suas entregas.
Às vezes o agricultor tem que entregar 250 gramas de salsinha em escolas distantes umas das outras, cada uma em um ponto da cidade. Isso acaba com os agricultores, disse a deputada, observando que as questões ali debatidas fazem parte das lutas dos deputados da Bancada petista.
Representando a União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica), Ângela Kulaif colocou sua preocupação com a mecanização que a partir dos anos 90 passou a substituir os trabalhos manuais, sem que houvesse treinamento amplo de pessoal para lidar com as máquinas.
TRANSIÇÃO PARA OS ORGÂNICOS
Uma visão otimista surgiu na fala de Márcio Stanziani, militante do Movimento Orgânico há quase 40 anos. Ele acredita que daqui a 10 anos a alimentação nas escolas públicas será totalmente composta por orgânicos. Stanziani foi um dos que lutou na Câmara para derrubada do veto à Lei municipal 16.140/15. A justificativa para o veto era de que não havia alimento suficiente para atender as demandas.
Ele conta que a lei e todo seu processo, da derrubada do veto passando pela resistência para implementar os orgânicos nas escolas, virou exemplo e chegou a ser apresentada em agenda sobre o tema em Estocolmo. Até Papa Francisco ficou sabendo da lei, observou o palestrante.
Stanziani também falou das dificuldades que o agricultor encontra quando quer fazer a transição e passar a ser agricultor orgânico, processo que se empenhou para modificar e conseguiu. Antes, o produtor não podia se identificar como em transição, o que o proibia de comercializar seus alimentos. Com o protocolo que permite a identificação, isso se torna possível.
A UTOPIA DA FISCALIZAÇÃO DO USO DO AGROTÓXICO
Em debate sobre agricultura, não poderia deixar de ser pautada a questão do uso de agrotóxicos, considerando que o Brasil é o maior consumidor da nociva substância no mundo, sendo que São Paulo ocupa o quarto lugar no ranking dos estados que mais consomem.
Para falar sobre o assunto, esteve presente o seminário o economista Matheus Gringo. Ele lembrou de dados de 2015 do IBGE, que apontam que foram despejados em São Paulo 62 milhões de litros de agrotóxicos, principalmente em canaviais. E que para fiscalizar o uso de agrotóxicos no Estado, existe na Secretaria da Agricultura apenas 75 servidores e um fiscal. Esse único fiscal, pelas contas de Matheus, levaria 100 anos para verificar um terço das propriedades de São Paulo.
As lutas que Matheus encampa, junto ao MST, o qual ocupa o cargo de diretor estadual, vão além da regulação do uso de agrotóxicos. Ele também trabalha para que agricultores, grupos, ambientalistas ou outras pessoas que são contra uso indiscriminado do agrotóxico não sejam criminalizadas como tem sido feito, principalmente sob coordenada da bancada ruralista, na Câmara; a liderança também se empenha para que machismo e violência não ocorram entre famílias dos agricultores, realidade que lamenta existir.
O deputado petista Marcos Martins, depois de relatar o caso de um primo que faleceu após se intoxicar numa plantação de café, falou da importância não apenas das pessoas do campo se empenharem na luta contra os agrotóxicos, mas também que as pessoas da cidade tenham essa preocupação.
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