Sem política habitacional
Foi com extrema violência que a Polícia Militar do Estado de São Paulo agiu, na segunda-feira (24/8), no despejo de 800 famílias (cerca de duas mil pessoas), durante a reintegração de posse no bairro Capão Redondo, Zona Sul da Capital.
A área que foi ocupada, há dois anos, mede 14 mil metros quadrados e pertence à Viação Campo Limpo, que ajuizou a ação de reintegração de posse, concedida pela justiça.
O governo do Estado montou um enorme aparato policiar para a operação, com 250 policiais, inclusive Tropa de Choque. Durante a operação, a Polícia usou bombas de efeito moral e balas de borrachas. Pelos menos cinco moradores e um policial ficaram feridos.
Moradores afirmam que os próprios policiais lançaram nos barracos bombas de gás lacrimogêneo, o que provocou o incêndio que se espalhou por praticamente toda a área.
A operação durou o dia inteiro. As cenas de violência e crueldade foram mostradas por quase todos os canais de televisão – uma brutalidade sem tamanho. O que se viu foram mulheres e homens correndo com as crianças para se proteger das balas e do fogo, numa cena indescritível. Todos os jornais noticiaram em primeira página as cenas de destruição.
Como o incêndio foi avassalador, as famílias não tiveram tempo para retirar seus pertences. O pouco que sobrou foi levado por caminhões para um galpão ou, em alguns casos, para a casa de parentes ou amigos.
A prefeitura de São Paulo nem sequer apareceu no local. Por meio da imprensa informou que estava oferecendo aos desabrigados apenas albergues e passagens de ônibus para quem quisesse voltar para a terra de origem. Evidentemente as famílias recusaram a proposta indecente.
De acordo com matéria do jornal Folha de S. Paulo, uma das bombas de gás lacrimogêneo lançada pelos PMS, no início da manhã, atingiu a casa do aposentado Edvaldo Manoel Correa, 57. Cadeirante, ele que teve dificuldades para sair do barraco (Folha de São Paulo, 25/8/09, pg. C1). Achei que ia morrer quando vi tanto gás. Meu filho e um vizinho me ajudaram a sair, mas logo o incêndio começou e não salvamos quase nada, afirma o senhor Edivaldo.
A Polícia Militar ordenou o fechamento de quatro escolas da rede pública municipal, deixando 4.500 alunos sem aulas na segunda e terça-feira (24 e 25/8). Não foi para abrigar os desalojados, mas sim para montar o QG da operação.
A Frente de Luta por Moradia, filiada a Central de Movimentos Populares (CMP), negociou com a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) e com a COHAB (Companhia Metropolitana de Habitação) de São Paulo uma solução para o atendimento da demanda, mas não obteve êxito.
Na terça-feira (25/8), pela manhã, uma pessoa foi encontrada desmaiada na calçada ao lado do terreno, por causa do frio e fome. Na busca de apoio, algumas famílias ocuparam três ônibus e foram à prefeitura de São Paulo para cobrar um atendimento habitacional, principalmente para os desabrigados.
A Bancada do PT manifesta total solidariedade às famílias e exige da prefeitura e da CDHU um atendimento adequado para as pessoas envolvidas.
