Superlotação
Enquanto o padrão mundial é de quatro pessoas por metro quadrado nos vagões de trens, nas linhas da CPTM o mesmo espaço é disputado por 10 passageiros. Em contrapartida a esta realidade, o governo de São Paulo investe muito pouco para melhorar o sistema.
Leia a seguir matéria publicada pelo jornal Diário de S. Paulo (em 22/10/2009).
Metro quadrado é disputado por 10 passageiros nos trens da CPTM
A cada ano, os trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) estão mais lotados. Nos horários de pico, uma viagem nas linhas mais concorridas exige disposição e resistência física. A linha 9 – Esmeralda (Grajaú – Osasco) é a que tem a maior concentração de passageiros por metro quadrado nos vagões. São 10 pessoas por metro quadrado, que se espremem como se estivessem em uma lata de sardinha, nos horários de maior movimento.
Os padrões internacionais consideram que o ideal são quatro passageiros por metro quadrado, seis, no máximo.
De 2005 até hoje, o número de passageiros nos trens da CPTM cresceu 53,84%. São cerca de 700 mil a mais que viajam nos trens durante a semana. Há cinco anos, a CPTM transportava 1,3 milhão de passageiros por dia. Hoje, são dois milhões. O DIÁRIO percorreu as linhas 9- Esmeralda (Grajaú-Osasco) e 11 – Turquesa (Luz – Estudantes), sempre no horário de pico, das 5h30 às 9h e das 17h às 19h. A linha 11 é a que mais transporta passageiros, diariamente, em números absolutos: 497.558.
Olha, a verdade é que a viagem de ida para o trabalho e a de volta para casa cansa mais que trabalhar, viu. É muito sofrido, desabafa o soldador Adriano Mecenas, de 26 anos.
De segunda a sexta-feira, Mecenas faz o caminho da estação da Luz e vic-versa, sempre nos horários de pico da manhã e da tarde.
Para os passageiros das duas linhas, o desconforto e o desgaste são rotina. Nos horários de maior movimento, a maioria espera passar pelo menos dois trens para conseguir, embarcar. Na plataforma, de embarque para Guaianazes, na Estação da Luz (linha 11), a aglomeração de pessoas começa pouco depois das 17h, e à 18h já não cabe mais ninguém no local. Dezenas de pessoas, empurradas por quem chega atrás, ultrapassam a faixa amarela de segurança.
Quando o trem se aproxima, a pressa de chegar em casa faz aumentar o empurra-empurra. Logo que as portas se abrem, as pessoas se espremem para tentar entrar no vagão, todas as mesmo tempo, a sem dar oportunidade para quem está dentro sair.
Mulheres e idosos levam a pior. Além de terem que esperar vários trens antes de conseguir entrar em um, muito se machucam. Já me machuquei feio depois que me empurraram, conta a diarista Zenilda Flores, de 42 anos, mostrando os braços arranhados. Na CPTM, o intervalo entre os trens varia de quatro a sete minutos. No Metrô, o intervalo é de um minuto e meio.
Nas linhas 9 e 11, nos horários de pico, o aperto é tanto que nem é preciso se preocupar em se segurar nas barras de ferro para não cair. Uma pessoa escora a outra. A temperatura é outro problema. Com janelas fechadas, lotação e um sistema de resfriamento ineficiente, o calor é inevitável, contribuindo ainda mais para o desconforto.
No horário de pico da manhã, na plataforma da Estação Guaianazes, em direção à Luz, a confusão é tanta que a CPTM pretende implantar o programa Embarque Melhor (com barreiras), no dia
Lugar para sentar é difícil
Para conseguir ir da Estação Primavera-Interlagos, onde mora, até Osasco, onde trabalha, sentada no trem, a doméstica Isaura Sobreiro, de 52 anos, prefere embarcar no sentido contrário a seu destino, e descer na estação anterior, Grajaú, que considera mais tranqüila. Faço isso para garantir um lugarzinho para sentar no trem. De Grajaú até Osasco são 50 minutos de viagem. Assim, não fico esmagada no vagão. Não tenho saúde nem preparo físico para enfrentar os empurrões, diz Isaura, que pega o trem às 7h30.
Já a bibliotecária Camila Martins Fontes, de 22 anos, reclama que os passageiros, em geral, são muito agressivos. Irritada por estar em pé em um trem da Linha 9, ela contou que sofre com os empurrões nos vagões.
É um desespero! Quando abrem a porta do trem, as pessoas vêm como se fossem animais irracionais, empurrando todo mundo, sem se importar se alguém pode se machucar. Um horror, contou ela, espremida entre dezenas de passageiros.
Camila pega o trem no Grajaú, na Zona Sul, todos os dias, pouco antes das 8h. Ela vai até a Estação Villa Lobos-Jaguaré, na Zona Oeste. Cansada antes mesmo de chegar ao trabalho, ela desabafa: Tem dia que dá vontade de nem ir trabalhar, só por causa desse aperto do trem. Você chega e já dá vontade de nem ir trabalhar, só por causa desse aperto de voltar para casa. O vigilante Marcos Roberto Rodrigues, de 27 anos, concorda. É muito cansativo. Acho que uma solução seria tirar os bancos para caber mais gente, sugere ele.
