Propaganda enganosa
Para professor, o fato de a foto apagar imóveis é “abuso”. Ele diz que o Photoshop (programa que altera imagens) é uma ferramenta publicitária importante e a publicidade tem o papel de “embelezar a realidade”, mas não alterá-la.
Para embelezar a nova Estação Sacomã do Metrô, na Zona Sul, inaugurada no fim de janeiro, a campanha publicitária da Companhia do Metropolitano de São Paulo apagou imóveis vizinhos da estação, faixa de pedestres e até postes e fios elétricos da foto que estampa os cartazes de divulgação da obra, espalhados pelas outras estações da rede. Um dos imóveis apagados, um prédio de 12 apartamentos, está com rachaduras e ficou torto após a construção da estação. E até agora os moradores não sabem se o Metrô pagará a reforma.
As fotos da propaganda têm um laço de presentes verde (a cor da linha que percorre o Sacomã), não trazem nenhuma mensagem informando que a imagem é ilustrativa ou que passou por tratamento digital. Quem vê é induzido a acreditar que aquela imagem é mesmo a da estação. As fotos também não mostram uma garagem da companhia que faz parte do lugar. Em alguns cartazes, ela foi substituída por um pequeno prédio, que estaria ao fundo da estação, e simplesmente não existe. Além do prédio torto, a foto também apagou os ventiladores de uma fábrica instalada no fundo da estação, trocou o formato de uma árvore e também sumiu com um semáforo para pedestres instalado na frente da entrada.
Para o professor de Propaganda Paulo Andre Bione, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o fato de a foto apagar imóveis é “abuso”. Ele diz que o Photoshop (programa que altera imagens) é uma ferramenta publicitária importante e a publicidade tem o papel de “embelezar a realidade”, mas não alterá-la. “Eu não tiraria um poste”, diz. “O que se pode fazer é mudar o Sol, se não estiver em um dia bonito, realçar o verde da vegetação. Fazer correções, não enganar as pessoas.”
Um levantamento feito pela Bancada do PT na Assembleia Legislativa, a pedido da reportagem, mostra que, só no ano passado, o Metrô assinou contratos de publicidade que, somados, dão R$ 56 milhões. É quase dez vezes o que era gasto, por ano, em média, até 2008: R$ 5,4 milhões, conforme o relatório.
Um morador do prédio apagado da foto disse que, durante a obra, a companhia pagou alguns vidros que se quebraram quando as fundações eram feitas e outros pequenos reparos. Entretanto, o terraço ficou com rachaduras e, quando chove, a água chega aos apartamentos. Os proprietários tiveram de passar impermeabilizante no terraço para evitar mais transtornos. Fora isso, o edifício se descolou do vizinho e tombou alguns centímetros para a direita (na direção da estação) e, agora, a água vai em direção oposta ao ralo.
NEGATIVA
Procurado, o Metrô negou que a foto seja uma montagem. Segundo a companhia, o que houve foi um “retoque” para destacar a obra. “O retoque destaca a arquitetura da estação”, diz a empresa. A companhia foi questionada, mas não disse qual foi a vantagem para a população em ver anúncios de uma obra pronta que não são iguais à realidade.
Já sobre os danos que ficaram em um dos imóveis apagados da fotografia, apontados por moradores, o Metrô diz que “monitorou o caso, a exemplo do que faz em outros locais com rachaduras, para descartar possíveis riscos”. “O setor de relacionamento com a comunidade e os engenheiros responsáveis pela obra fazem reuniões periódicas com o conselho de moradores. Com a conclusão da obra, o Metrô realiza as últimas vistorias e análises necessárias para tomar as providências cabíveis.” Com relação aos gastos com publicidade, o Metrô afirma que “acompanharam o aumento dos investimentos no setor”, além de ser “uma maneira eficiente para comunicar à população sobre os benefícios que o Plano de Expansão tem proporcionado”.
fonte: Jornal da Tarde – 5/3/2010 – reportagem Bruno Ribeiro
