Direitos Humanos
Nesta quarta-feira (10/8), a ex-escrivã Sra Vanessa Frederico Soller Lopes, compareceu à audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo, convidada pela Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, da Cidadania, da Participação e das Questões Sociais. Vanessa foi vítima de supostos abusos por parte de delegados da Corregedoria da Polícia Civil, em interrogatório realizado em junho de 2009, no 25º DP, no bairro de Parelheiros, Zona Sul de São Paulo.
O depoimento da ex-escrivã ocorreu em sessão reservada, sem a presença de público e da imprensa. Somente os parlamentares membros da comissão ouviram a versão de Vanessa, que consentiu falar aos deputados desde que fosse garantido seu direito à preservação da imagem. Esta foi a primeira aparição pública da ex-escrivã desde o episódio.
Para o deputado Adriano Diogo, que preside a Comissão, é muito importante que o caso da ex-escrivã seja federalizado e que este crime não fique impune. Segundo Adriano Diogo, na verdade ocorreram dois crimes: um deles de tortura, um ato coercitivo, com sevícia e sodomia. O outro, de divulgação intencional das imagens, fala.
Para baixar o audio na íntegra, acesse:
http://www.4shared.com/audio/RwW66n0t/DIREITOS_HUMANOS_10_08_11.html
Fatos desrespeitosos
Bastante constrangida e com voz embarcada, Vanessa relembrou o episódio. Fui humilhada como mulher e como ser humano, fala, explicando que estava atendendo um rapaz com porte ilegal de munição e que tinha agredido o pai. O rapaz, que já a havia procurado várias vezes nas dependências da delegacia, apareceu novamente naquele dia. Ela prescreveu uma segunda intimação para que o pai do rapaz fosse depor ao 25º DP.
Assim que o rapaz saiu da sala, o dinheiro apareceu na minha mesa. Eu estranhei e me dirigi à sala do delegado titular para comentar o caso. Mas ele não estava, comenta Vanessa, contando que, a seguir, ocorreu uma sequência de fatos desrespeitosos.
Reviraram a minha sala, a minha mesa de trabalho, a minha bolsa… Na sequência Vanessa sofreu forte humilhação e violência, onde policiais usaram a força bruta para algemá-la, despi-la e expor suas partes íntimas na presença de policiais e agentes do sexo masculino. Toda a ação foi gravada, em vídeo, pela Corregedoria.
A Corregedoria primeiro pune para depois você, se quiser, se defender, alega a ex-escrivã, que foi acusada pelo crime de concussão (quando um servidor público recebe o pagamento de propina).
Para a ex-escrivã, tudo não passou de uma armação. Vanessa explica que enxerga Eduardo (o delegado Eduardo Henrique de Carvalho Filho que comandou a ação) como um monstro.
Vanessa não conhecia o delegado até aquela data. E, segundo ela, a motivação do mesmo era vê-la despida. Ele dizia que tinha conseguido tirar a minha roupa, fala a ex-escrivã que, durante seus nove anos de carreira na Polícia Civil, sofreu assédio de delegados e chefes.
Vanessa ficou um mês presa na Corregedoria, voltou a trabalhar no mesmo distrito, em Parelheiros e a seguir foi demitida. Quando parte do vídeo foi levado a público pela TV Bandeirantes e, após, ter sido veiculado na internet em fevereiro deste ano, Vanessa diz ter sofrido outro tipo de assédio.
Ela conta que uma viatura da Corregedoria ficou parada na porta da casa da ex-escrivã, com agentes perguntando sobre ela a vizinhos e conhecidos. Ainda segundo Dr. Fábio Guedes Garcia da Silveira, advogado de Vanessa, em nenhum momento a versão de Vanessa foi ouvida. Houve total parcialidade do Estado, diz.
Próxima quarta
A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa convocou os delegados Dr. Eduardo Henrique de Carvalho Filho e Dr. Gustavo Henrique Gonçalves. Os mesmos vão depor sobre o caso na próxima quarta, dia 17 de agosto, às 11 horas, em auditório ainda não confirmado.
A Comissão também aprovou o requerimento do deputado Adriano Diogo de convocação dos delegados Renzo Santi Barbin e Emílio Antônio Pascoal e dos investigadores de polícia Guilherme Amato Nobile, Marcelo Aparecido Lino dos Santos, Fernando Evangelisti, Rubens de Oliveira Rangel e Daniel de Resende Baldi para prestar informações sobre as denúncias de violações dos direitos humanos praticadas contra a ex-escrivã. Os mesmos vão depor em datas a serem definidas pela Comissão.
