A quem serve menos filosofia e sociologia? Está em pauta na Secretaria de Educação de São Paulo estudo sobre reforma curricular do Ensino Médio. E, embora não sejam citadas no referido estudo, avaliações como o ENEM (na pontuação geral do país a 1ª escola estadual aparece em 903º lugar) e os índices de evasão, repetência e abandono são reveladores e traduzem, em parte, a situação calamitosa dessa etapa do ensino no Estado de São Paulo.
O Ensino Médio há anos ficou relegado, no Estado, à indiferença dos gestores públicos da Educação denotando descaso com a importância e a necessidade desse período na formação de nossos jovens. Resultados dessa política são os dados do PNAD/IBGE de 2009: do total da população, em São Paulo, nessa faixa etária entre 15 e 17 anos, só 85,7% estão matriculados neste nível de ensino; em 2009, jovens de 19 anos que concluíram o Ensino Médio totalizaram 68,3%. O índice de analfabetismo em jovens com 15 anos ou mais é 4,7% , jovens que deveriam estar cursando o Ensino Médio. Esse índice é bastante alto para o Estado economicamente mais importante do país.
A taxa de analfabetismo funcional mantém-se, também, bem alta: 13,2% da população nessa faixa etária. São esses problemas que estão a merecer do governo, há bastante tempo, mais do que atenção especial, medidas que retirem o Ensino Médio do limbo em que está metido.
O MEC , no governo Lula (2009), elaborou proposta que denominou Ensino Médio Inovador. É realmente uma perspectiva inovadora. O que foi formulado: Propõe-se, dentro de um processo dinâmico, participativo e contínuo, estimular novas formas de organização das disciplinas articuladas com atividades integradoras, a partir das interrelações existentes entre os eixos constituintes do ensino médio, ou seja, o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura. Com isso armou as redes de ensino de um instrumento que supera a dicotomia existente no Ensino Médio entre formação geral, preparação para o trabalho e continuidade dos estudos. Esse é aspecto mais importante do projeto.
Em que pese a tardia hora dessas mudanças, para um governo há 16 anos encastelado no comando do Estado, fez efeito desencadeador a proposta do governo federal.
Basicamente a Secretaria de Educação de São Paulo altera a grade curricular. Reduz aulas de Português e Matemática e amplia a de outras disciplinas. Até agora, eram cinco as aulas daquelas disciplinas, reduzidas na proposta para quatro, redistribuindo o número de aulas de maneira mais equitativa, principalmente na área de ciências humanas. Por exemplo, Filosofia e Sociologia, que na grade ainda em vigência têm uma aula por semana, no 3º ano do Ensino Médio passam, na nova proposta, a ter 4 aulas semanais cada disciplina.
Foi o suficiente para que vozes conservadoras viessem a público questionando essa redução, como foi o caso de Editorial da Folha de São Paulo de 30 de setembro pg.A2 opinião. Como se a quantidade de aulas fosse, por si só, a solução para os problemas da escola pública. Pelo contrário, se fosse tão verdadeiro assim, não teríamos resultados tão pífios nas avaliações.
Mas, mais do que questionar a redução dessas aulas, há a crítica reacionária sobre a ampliação de aulas da área de humanas. O autor do editorial não prima pelo conhecimento de pressupostos básicos de Pedagogia ao afirmar que sem o domínio do cálculo e da linguagem o ensino dos demais conteúdos se torna ineficaz. Ignora o pretenso critico que relacionar, raciocinar, interpretar, pensar, enfim, tenham, na Filosofia, na Sociologia, na Historia, aliados indispensáveis ao processo do conhecimento. Por isso, tão importante como aprender a ler e calcular é compreender o mundo em que se vive e adquirir conhecimento para transformá-lo.
Mas não é à toa que o subtexto do artigo destina a uma parcela significativa dos jovens exclusivamente o mundo do trabalho (de jovens que querem trabalhar no final da adolescência melhor seria dizer que precisam trabalhar porque suas condições de vida são precárias) e não tem a mínima necessidade de pensar.
Na realidade quem precisa de jornais que pregam menos sociologia e filosofia no ensino?
Assessoria de Educação da Liderança do PT
