O serviço de ônibus fretado atende a uma parcela da população de maior renda. São pessoas que moram em cidades localizadas a até 100 quilômetros da capital ou em bairros distantes e trabalham na cidade de São Paulo. Apesar de possuírem automóvel, preferem a comodidade do ônibus, seja para ler ou dormir durante o percurso ou economizar combustível, pedágio e estacionamento.
A capital paulista não oferece um transporte público de qualidade. A rede metroviária é a menor entre as grandes capitais do mundo. O metrô de São Paulo é ainda campeão de lotação. Na linha 3 (vermelha) chegam a ser transportados mais de nove passageiros por metro quadrado, sendo que os técnicos recomendam o máximo de seis.
A rede da CPTM que atende a cidade e municípios vizinhos também não é conhecida pela qualidade. Os passageiros enfrentam trens velhos e superlotados, estações centenárias sem acessibilidade e conforto. A gestão do transporte sobre pneus, a cargo da Prefeitura de São Paulo, também não anda bem das pernas.
O sistema, que na gestão da petista Marta Suplicy era bem avaliado pelos usuários, agora é considerado ineficiente por seus usuários. Isso porque a gestão Serra/Kassab não continuou o projeto de interligação da administração anterior.
A construção de corredores de ônibus foi pífia. Apenas poucos quilômetros do corredor da Avenida Vereador Diniz foram construídos e o Expresso Tiradentes, que já encontrava-se parcialmente pronto, teve continuidade. O corredor de ônibus é essencial para aumentar a velocidade dos mesmos e melhorar a mobilidade urbana.
Além disso, a gestão Kassab não gerencia de forma adequada os corredores que estão prontos. Há invasão da faixa exclusiva para ônibus por carros particulares, sem que haja fiscalização.
O pavimento de boa parte dos corredores está repleto de buracos, o que reduz a velocidade e causa desconforto aos passageiros. A Prefeitura tinha anunciado a construção de seis corredores, mas houve resistência de alguns moradores de regiões de classe média e editoriais contrários de alguns jornais, o que provocou o recuo do prefeito. A renovação da frota está parada e as empresas foram autorizadas a rodarem com ônibus velhos, contrariando cláusulas contratuais.
O Interligado prevê ainda a construção de mais terminais de ônibus para facilitar o transbordo de passageiros, a instalação de GPS (sistema de localização e monitoramento) em todos os ônibus e modernização da gestão das empresas.
Pelo cronograma inicial, o sistema deveria estar integralmente implantado em 2008, com mais de 300 quilômetros de corredores de ônibus, frota renovada, novos terminais e serviço de qualidade. Nada disso foi feito e a Prefeitura tem optado pelo transporte individual em detrimento do coletivo.
Houve redução da frota com aumento do número de passageiros. Como resultado, a qualidade do transporte público ofertado pelo município piorou com ônibus cheios e desconforto dos usuários. E esse sistema caótico recebe mais de oito milhões de pessoas diariamente, segundo dados da SPTrans, enquanto o Metrô transporta 3,5 milhões. De janeiro a maio de 2009, houve crescimento de 15,21% no número de passageiros nos ônibus municipais, sem contrapartida no aumento da frota.
O prefeito criou o factóide de investimento no Metrô mas, na realidade, do bilhão prometido, menos da metade chegou de fato à Companhia do Metropolitano de São Paulo. E como a Companhia não possui projetos para alavancá-lo, esse dinheiro ainda não está sendo gasto.
Em vez de adotar soluções estruturais para o transporte coletivo, o prefeito escolheu seguir pelo caminho mais fácil e transformou o serviço de ônibus fretado em bode expiatório. O resultado é o caos em várias vias da cidade e problemas sérios de deslocamento para milhares de pessoas que utilizam o sistema de fretados para trabalhar.
Para piorar, os passageiros deste sistema tiveram ainda seus custos de transportes aumentados. Agora, muito deles são obrigados a utilizar metrô e ônibus para chegar ao trabalho. Esta despesa significa aproximadamente R$ 187,50 por mês a mais de gasto com transporte ou R$ 2.062,50, anualmente.
Com todos estes problemas, fica evidente o incentivo ao uso do transporte individual em detrimento do coletivo, já que muitos usuários optaram pelo uso do carro em razão da péssima qualidade do transporte oferecido.
Como consequência, teremos um trânsito ainda pior na cidade. A gestão dos transportes em São Paulo está sendo feita de improviso. Falta planejamento, competência e prioridade ao transporte público.
