O aumento na passagem dos transportes públicos: o jeito tucano de governar

10/02/2009 17:09:00

Em 9 de fevereiro de 2009 os preços das passagens do Metrô, da CPTM e dos ônibus intermunicipais metropolitanos estão subindo.  É mais uma contribuição do governo Serra à crise.  O objetivo do governador parece ser o caos.  Ele acha que isso beneficia a sua candidatura em 2010.  Afinal, aumentar preços públicos quando há uma crise batendo as portas é estar jogando gasolina na fogueira. 

As passagens de transporte público sob gestão do Estado tinham aumento bienal.  Por decisão do governo Serra elas aumentarão anualmente, diminuindo a renda disponível das famílias mais pobres que usam transporte público, além de aumentar a fuga para o transporte individual, que inviabiliza o tráfego nas metrópoles paulistas. 

 Vale frisar, que este aumento tem um forte impacto na escalada da inflação, o que onera as camadas mais pobres da população. A decisão de aumentar as tarifas de transportes metropolitanos anualmente, além da sanha arrecadatória do Serra é em função do contrato firmado com o consórcio que vai explorar operacionalmente a linha 4 – Amarela do Metrô.  Nesse contrato, estão estipulados aumentos anuais das passagens metroviárias.    

O preço da tarifa do Metrô, da CPTM e do Corredor Metropolitano passará de R$ 2,40 para R$ 2,55.  O aumento foi de 6,25%, contra uma inflação oficial medida pelo IPCA de 5,9%.  Nos casos do Metrô e da CPTM existe a possibilidade de compra de cartões múltiplos de 8, 20 ou 50 passagens, com desconto.  Acontece que, nem sempre o usuário tem o dinheiro para a compra de tantas passagens juntas. 

A maioria paga a tarifa cheia. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – IDEC, o Metrô de São Paulo está entre os mais caros do mundo em comparação com o poder de compra de bilhetes do Metrô em relação ao salário mínimo de nove capitais. 

Em São Paulo com o piso nacional (R$ 465,00), é possível comprar 182 bilhetes.  Em Buenos Aires, a mesma relação dá para comprar 1.079 bilhetes, (o equivalente a R$ 0,50 o preço da tarifa).  Na Cidade do México 570 passagens (o equivalente a R$ 0,33 por viagem), em Tóquio 339 passagens, Londres 194 entre outras.   

Nos ônibus intermunicipais a questão ainda é pior, pois eles atendem a periferia das metrópoles paulistas. Nesses então, a alta das tarifas será bem maior do que a variação inflacionária.  Na Região Metropolitana de Campinas (RMC), será de 9,18%, na Região Metropolitana da Baixada Santista (RMBS), de 8,60% e na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), 7,45%. Nessas regiões, onde se concentra a parcela mais pobre da população, o custo do transporte é maior do que nas regiões centrais. 

Além disso, não há bilhete único que faça a integração entre os sistemas municipais, intermunicipal, CPTM e Metrô.  No quadro abaixo, exemplo de tarifas que passarão a vigorar nas três regiões metropolitanas:   

Algumas tarifas de transportes cobradas nas três regiões metropolitanas

Linha Região Metropolitana Preço da tarifa
     
Cotia/Osasco RMSP 3,70
Osasco/Lapa RMSP 2,85
Carapicuíba/Pinheiros RMSP 3,15
Osasco/Pinheiros RMSP 2,85
Peruíbe/Praia Grande RBS 5,95
Mongaguá/São Vicente RBS 3,25
São Vicente/Santos RBS 3,05
Praia Grande/Santos RBS 3,25
Americana/Sumaré RMC 4,15
Hortolândia/Campinas RMC 2,60
Itatiba/Campinas RMC 6,35
Campinas/Jaguariúna RMC 3,00

       Elaboração: Assessoria de Transportes da Bancada do PT    Fonte: EMTU 

Essas tarifas são de linhas de quilometragem média. Há linhas longas em que o custo das passagens será bem maior, como a que liga Bertioga a Guarujá, com 61,20 quilômetros de extensão e passagem a R$ 6,80. 

Em várias linhas servidas pelas operadas da EMTU no custo na passagem está embutido a tarifa de pedágio (outra criação tucana), como Santana de Parnaíba/Lapa na RMSP, em que R$ 0,50 é parcela de pedágio.

Dessa forma, o usuário dessa linha paga, diariamente, R$ 1,00 a mais em função do pedágio. No mês serão R$ 25,00 e no ano R$ 300,00. Na linha Indaiatuba/Campinas na RMC, a parcela de pedágio é de R$0,60. Assim, diariamente o passageiro deixa R$ 1,20 a mais, o que contabiliza R$ 30,00 a mais no mês e R$ 360,00 no ano. 

Na linha Guarujá/Cubatão a incidência da tarifa chega a R$ 0,75.  Diariamente, o passageiro gasta R$ 1,50, o que equivale a R$ 37,50 no mês e R$ 450,00 no ano.  Isso porque o governo sempre alega que quem paga pedágio é rico, ou seja, todos os passageiros das linhas de ônibus intermunicipais que pagam a parcela pedágio, segundo o governo, são ricos.    

O governo estadual não deveria aumentar o preço das passagens dos transportes públicos gerenciados pelo Estado que já eram caras.  Deveria congelá-las até que a situação econômica do país melhore. 

A alegação de que há necessidade de cobrir os custos não se justifica, visto que na maioria dos países o transporte público é subsidiado. 

Quando se subsidia o transporte coletivo há transferência de renda para a população de menor poder aquisitivo.  Isso aumenta a renda disponível das famílias e o nível de consumo, que por sua vez ativa toda a economia.  

O governo Serra está indo na contramão.  A impressão é que ele deseja que a crise financeira definitivamente se instale no país para que suas pretensões em 2010 sejam viáveis.   

Ademais, falta implantar o bilhete único nas regiões metropolitanas e com características afins, como São José dos Campos, Sorocaba e outras que agregam vários municípios. 

Esse bilhete precisa estar em sintonia com a modicidade tarifária, integrando os vários modais, ônibus, metrô, trem e barca (RMS).   

É preciso que os sistemas de ônibus municipais sejam integrados aos intermunicipais para garantir aos passageiros uma viagem mais acessível.       

O governo Serra tem distribuído nos terminais do Metrô um panfleto tentando justificar a sanha arrecadatória do seu governo e publicou algumas planilhas de custo no Diário Oficial, ações com a visível intenção de enganar a população que não sabe que transporte público, a exemplo de outros países, deveria ser subsidiado. 

Com essas medidas, o governo Serra demonstra a insensibilidade tucana com os mais pobres que serão os mais penalizados com esses aumentos fora de hora. 

 Evaristo Almeida – Assessoria de Transportes da Bancada do PT  

 

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