Filosofia sim, despautério não

20/03/2009 14:24:00

O contrato nº 21/2008 de R$ 31.487.418,00, com dispensa de licitação, a Fundação Carlos Alberto Vanzolini, a Secretaria de Educação e erros grosseiros em apostilas produzidas para a 6ª série do Ensino Fundamental entregues aos alunos das escolas da rede pública estadual: esses são os personagens centrais de uma história sem fim de descaso com o ensino no Estado de S.Paulo.

Nas apostilas de Geografia,um mapa da América Latina apresenta dois Paraguais, uma inversão de localidade do Uruguai e Paraguai e a eliminação do Equador.  Não sem razão, jornais desses países repercutem negativamente o fato.

A apostila de Filosofia levou Mauro Antonio de Nascimento, professor efetivo da rede estadual em Ribeirão Preto, a elaborar uma crítica sobre os erros etimológicos e conceituais contidos na matéria De fato, à pág. 17 do Volume 1 da apostila de Filosofia, constata-se a miséria com que a matéria está sendo tratada.  Conceitos como o de Moral e Ética tem total desprezo pelo pensamento e muito desrespeito aos alunos. Moral é apresentada como “É o que já foi decidido: ela permite tudo, desde que não se desobedeça a princípios”. E a Ética, tema ao qual muitos pensadores importantes como Aristóteles, Kant, Spinoza, se debruçaram longos anos e livros a fio, traz o seguinte epíteto: “Tudo depende: ela permite tudo, desde que não se faça mal a ninguém” (sic). Com isso, solicita-se aos alunos exercitar sua reflexão sobre os temas! Com esse conteúdo jamais os alunos poderão refletir sobre os atos humanos, os costumes e as relações dos homens em sociedade, ou poderão discutir sobre os valores morais, os princípios ideais da conduta humana, como preconizam a Moral e a Ética. Filosofia não se simplifica, ensina-se sim, de acordo com as condições de aprendizagem dos alunos.

Reportagem do jornal Folha de S.Paulo (17.03.09) pg.C3 cita manifestações de professores universitários e professores da rede com críticas severas ao acontecido. Nesta mesma matéria a Secretária se limita a responsabilizar a empresa que produziu o material afirmando que não iria recolher as apostilas e que os professores corrigissem os erros. Mas o escândalo é realmente de tal monta que na edição do jornal do dia seguinte (Folha de S.Paulo 18/03/09) a Secretária recuou da decisão anunciando a retirada das apostilas da rede. E o governador que até então não havia se pronunciado, questionado sobre o assunto laconicamente responde sobre possíveis falhas:“da empresa contratada e da secretaria que deveria ter revisado.

Isso não é um erro que alguém possa ignorar”.

Em razão desses erros as apostilas de Geografia serão revisadas mas e as de Filosofia? E outras, de outras disciplinas, passiveis também de erros em seu conteúdo como ficam?

É fundamental que se exija da Secretaria a constituição de comissões revisoras dos conteúdos para que não se tenha como explicações para esses absurdos erros o processo de produção física dos livros didáticos como diagramação, conforme hipótese levantada pelo professor Jaime Tadeu Oliva um dos autores do caderno.

SAI AVALIAÇÃO DO ENSINO NO ESTADO

A Secretaria da Educação divulgou em página e meia de jornais da grande imprensa, os números do Idesp, indicador de avaliação das escolas estaduais em São Paulo, criado pela Secretaria da Educação em 2007 e que é composto pelos resultados do SARESP (exame elaborado pelo Estado) e pelo número de alunos aprovados nas séries correspondentes à idade certa.

As notas, na média, não chegam a 4 considerando a escala de 0 a 10. Os poucos avanços obtidos não refletem, de fato, nenhuma alteração na qualidade do ensino da rede pública.

No Ensino Fundamental de 1ª a 4ª séries o indicador passou de 3,23 em 2007 para 3,25 em 2008 e da 5ª a 8ª série saiu de 2,54 para 2,60. São notas bem abaixo da média. O Ensino Médio que na avaliação da Secretaria teria sido o nível de melhor resultado obteve o índice de 1,95 contra 1,41 em 2207, 51% das escolas de 1ª a 4ª séries aumentaram alguns centésimos na avaliação e 49% regrediram ou permaneceram no mesmo índice do ano anterior. Nas escolas de 5ª a 8ª, 55,8% melhoraram e 44,2% pioraram.No Ensino Médio houve alteração dos índices a maior em 84,6% das escolas com 78,7% atingindo a meta definida pela secretaria. O objetivo da Secretaria é atingir as metas de 7 no Ensino Fundamental de 1ª a 4ª, de 6 na 5ª a 8ª e 5 no Ensino Médio até 2030, ou seja, tolerância de 21 anos com a situação do ensino no Estado.

Não foram divulgadas todas as metas das escolas. Somente as 10 melhores e as 10 piores. Não casualmente ao 10 piores estão localizadas em áreas da periferia e as melhores são as escolas mais centrais e de bairros com população de poder aquisitivo de médio a alto.

Os números traduzem ainda o pouco que se tem feito em Educação no estado de São Paulo. Não foram divulgadas todas as metas das escolas. Somente as 10 melhores e as 10 piores. Não casualmente ao 10 piores estão localizadas em áreas da periferia e as melhores são as escolas mais centrais e de bairros com população de poder aquisitivo de médio a alto.

O Idesp entrará também, nos cálculos para pagamento do Bônus Resultado aos profissionais da Educação. Alcançado 100% da meta estabelecida para a escola os professores e funcionários poderão receber até 2,9 salários mais. Mas os resultados demonstram que metade da rede não conseguiu atingir as metas estabelecidas e pelos critérios elencados para o pagamento do bônus metade da rede não receberá esse o beneficio.  

 

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