Aílton Graça é homenageado pela Assembleia Legislativa de São Paulo
Aílton Graça é homenageado pela Assembleia Legislativa de São Paulo

O proponente da homenagem, o deputado Teonilio Barba, e o homenageado, ator negro e sambista, destacaram o significado de o prêmio e a solenidade acontecerem em novembro, mês da consciência negra.

A Assembleia Legislativa de São Paulo concedeu a Aílton Graça o Colar de Honra ao Mérito, em sessão realizada nesta quinta-feira, 24/11. O ator e sambista paulista agradeceu sua ancestralidade por estar recebendo a homenagem justamente no mês da consciência negra.

A homenagem foi iniciativa do deputado Teonilio Barba (PT), que falou de sua emoção de poder atuar no parlamento para honrar a memória e a vida de pretos e pretas. Levando à frente proposta que já havia sido apresentada no legislativo por parlamentares negros, José Cândido, Vicente Cândido e Leci Brandão, Barba apresentou projeto de lei para que o Dia Estadual da Consciência Negra, 20 de novembro, fosse declarado feriado estadual. O projeto foi aprovado e sancionado, transformando-se na Lei 17.746/2023.

A garantia do feriado da consciência negra é uma “reparação que o Estado e a Assembleia Legislativa fazem ao nosso povo preto de São Paulo”, afirmou Barba.

Entende o homenageado que a pauta preta está avançando, mas há muito a se fazer. A Lei 10.639 faz 20 anos, “num exercício truncado de se fazer presente dentro das escolas de forma obrigatória”, mas, acrescentou Aílton Graça, é preciso que os professores tenham instrumentos para “lecionar de maneira mais consolidada”.

Comecei no cinema há 20 anos fazendo Carandiru, antes já fazia teatro, já fazia arte, mas nunca fui protagonista, fiz sempre papéis coadjuvantes. Mussum é o primeiro trabalho que faço protagonista. Meu desejo como ator, é não fazer só ‘pretagonista’. Eu quero que a dramaturgia fale: preciso de um ator para fazer um grande engenheiro, chama o Aílton Graça. Que não chame pela cor, mas pela competência artística.

Ao lado do filho, Vinícius, e da companheira Kátia Naiane, Aílton Graça falou dos instrumentos que transformaram sua vida: uma caneta, presente da sua mãe quando criança, e um nariz de palhaço – a menor máscara do mundo –, que ganhou da atriz e diretora Cida Almeida.

Cida Almeida, vivendo a palhaça Chiquinha, foi a primeira, dos vários artistas que se manifestaram no ato, a homenagear Ailton. Falou da sua trajetória e do orgulho de ter dito ao menino Ailton, sentado na plateia: “venha suba, teatro se faz fazendo”.

Ailton Graça terminou sua fala na solenidade pedindo que as escolas de samba, “esses quilombos culturais urbanos” sejam resgatados para as pautas pretas.

Biografia

Aílton Graça nasceu em São Paulo, filho de um porteiro de hospital e de uma dona de casa, foi criado na periferia de, no bairro de Americanópolis, mais precisamente no Buraco do Sapo. Ainda no tempo da escola, apaixonou-se por dramaturgia, e atuou em diversas peças amadoras.

Ainda adolescente fez parte da Escola Independente do Jardim Miriam.

Antes de se tornar ator profissional, foi fiscal de lotação, feirante e vendedor de loja de sapatos. Aílton foi servidor público do Estado de São Paulo ao ser aprovado e empossado em um concurso público para o Hospital do Servidor Público Estadual. No hospital, havia um projeto de lazer para pacientes, criado por alguns atores e atrizes da Escola de Artes Dramáticas da USP. Ailton participou do grupo e atuou em diversas ações do grupo.

Em 1985, Aílton se formou na Oficina Vocal do Centro Cultural de São Paulo e depois fez técnicas circenses no Circo Escola Picadeiro. De 1986 a 1988, foi aluno de Antunes Filho, sob a direção de quem fez sua estreia em Chica da Silva. Foi também do Teatro Popular União e Olho Vivo, de César Vieira. “Lá todos podiam fazer teatro, o pedreiro, a doméstica, o carroceiro. Foi o lugar com o qual mais me identifiquei na vida”, diz Aílton.

Em 2002, foi mestre-sala e coreógrafo de comissão de frente das escolas de samba Gaviões da Fiel e União Independente da Zona Sul. No ano seguinte, estreou no cinema como o personagem Majestade, comandante do tráfico de drogas dentro da cadeia, no filme Carandiru.

Em 2005, estreou na televisão na novela América, como Feitosa. A partir desta novela, atuou também nos programas Cidade dos Homens, A Diarista e Retrato Falado. Além disso, participou de Cobras e Lagartos interpretando o cômico Ramires e, em Império, deu vida à inesquecível Xana Summer.

Em dezembro de 2019, Aílton assume a presidência de uma das escolas de samba mais antigas do carnaval de São Paulo, a Lavapés.

Em novembro de 2023, entra em cartaz nos cinemas de todo o Brasil, interpretando o humorista e cantor Mussum.

Homenagens

“Ailton Graça é aquele companheiro que consegue fazer dez coisas ao mesmo tempo, faz filme, novela, teatro e milita”, disse Vicente Cândido, presente ao ato juntamente com o deputado federal Alfredinho e o deputado estadual Eduardo Suplicy.

Kaxitu Ricardo Campos, presidente da Federação Nacional das Escolas de Samba, levou a Ailton Graça os parabéns de 18 escolas de sampa do Brasil. Afirmou que a homenagem é um sinal de resistência, dos negros e do samba, em especial nesta noite de quinta-feira quando a histórica porta-bandeira Vilma Nascimento da Portela, aos 85 anos, é vítima de racismo no aeroporto de Brasília, ao ser acusada de furto.

Cida Almeida, a Palhaça Chiquinha
Kátia Naiane
Vinicius Graça
Kaxitu Ricardo Campos
Vicente Cândido
Alfredinho
Aílton Graça e Suplicy

  

Fotos: Alesp.

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