A votação do PL 410/2021, que trata da outorga de título de domínio e transferência da propriedade resolúvel de lotes às famílias beneficiárias dos Planos Públicos de Valorização dos Recursos Fundiários do Estado de São Paulo, foi mais uma vez adiada. A sessão extraordinária desta terça-feira, 30/11, foi levantada a pedido da líder da bancada do PT, deputada Professora Bebel, para que haja mais tempo para a avaliação da matéria e para a análise do substitutivo apresentado pelo Partido dos Trabalhadores.
O deputado Dr. Jorge do Carmo afirmou que a bancada do PT jamais será a favor da regularização da grilagem. Ele se referiu a dispositivos do projeto que permitem a alienação dos imóveis da reforma agrária e brechas para que estes sejam capturados pelo mercado imobiliário. O deputado defendeu o instituto da concessão de direito real de uso e questionou a cláusula que prevê a transferência dos títulos de domínio de forma onerosa, isto é, com custos para os assentados. Esses pontos foram objeto das modificações apresentadas no substitutivo, que agrega propostas dos movimentos de trabalhadores rurais e de técnicos e especialistas que atuam na política agrária do Estado.
Na avaliação da bancada, o título de propriedade não vai gerar garantias às famílias assentadas, como alega o governo. A segurança jurídica das famílias assentadas já é garantida por um instrumento com força de escritura pública, que transfere ao beneficiário, de forma gratuita e em caráter definitivo, a concessão de uso do imóvel objeto dos planos públicos de valorização e aproveitamento dos recursos fundiários.
Ou seja, a concessão de uso de terras já garante direito à herança e indenização pelas benfeitorias feitas em caso de desistência. O que é preciso analisar é “se este instrumento jurídico atendeu o anseio por mais autonomia das famílias assentadas ou se não faltou empenho por parte da gestão do ITESP para explicar que nesta condição os assentados já possuem segurança jurídica”, destaca a justificativa do substitutivo.
A Lei nº4.957/1985, que instituiu os planos públicos de valorização e aproveitamento dos recursos fundiários, foi criada antes da Constituição de 1988 como um mecanismo de democratização de acesso à terra, atendendo a crescente demanda por reforma agrária dos movimentos sociais que estavam em pleno processo de organização e mobilização.
O PL 410/2021, da forma como foi apresentado, promove mudanças na lei que significam a descaracterização dos assentamentos e o fim paulatino dos referidos planos. “Os futuros proprietários não terão mais a obrigação de serem agricultores familiares. As terras voltarão ao mercado, podendo ser destinadas a outras atividades e até mesmo para espaços de lazer”, advertem os deputados petistas.
O substitutivo visa garantir a destinação agrícola e a exploração familiar das glebas, bem como a exploração conjunta entre beneficiários por meio de cooperativas e parcerias. Também propõe a isenção de pagamento pelo título de domínio expedido e a inegociabilidade do título de domínio por um período de 10 (dez) anos, contados a partir da data de outorga do título.
Outra mudança proposta é a de que o imóvel objeto de título de domínio somente poderá ser alienado a um agricultor familiar, devidamente caracterizado nos termos da Lei Federal nº 11.326, de 24 de julho de 2006 e a nova área titulada deverá corresponder às dimensões da gleba original. Quanto às regras de sucessão, os herdeiros ou legatários deverão atender aos requisitos de elegibilidade da lei e assumir as obrigações constantes do título. Caso os sucessores não atendam os requisitos de elegibilidade ou não queiram explorar o lote, poderão aliená-lo para um agricultor familiar.
Na avaliação dos deputados petistas alterações no projeto original são essenciais para impedir que ele se converta numa brecha legal para a regularização da grilagem, para a especulação imobiliária de terras da reforma agrária e para a reconcentração da propriedade da terra.

Essa é a defesa que precisa ser feita de fato para impedir essa barbárie que representa o PL 410.
Parabéns a bancada.Parabens aos Movimentos Sociais que se mobilizaram.
Garantir a agricultura familiar é fundamental para a sociedade, parabéns.