Debate
Como está sendo feita a implementação no Estado de São Paulo das Diretrizes Nacionais de Educação nas Prisões estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação?. Para debater esta questão, a Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa realizou audiência pública, nesta quarta-feira (21/9), acompanhada pelos deputados do PT, João Paulo Rillo e Simão Pedro.
Apesar do governo do Estado ter instituído um grupo de trabalho para formatar o Programa de Educação nas Prisões, uma das reivindicações apresentadas por Ester Rizzi, da Ação Educativa, é pela integral assunção pela Secretaria de Educação da oferta de educação nos presídios, além do entendimento de não ser cabível, nem compatível com as Diretrizes Nacionais, que o trabalho seja planejado pela pasta, mas executado pela Administração Penitenciária ou seus órgãos correlatos, como querem alguns.
O aspecto fundamental das Diretrizes Nacionais foi, de acordo com as entidades, a explicitação da responsabilidade da Secretaria Estadual de Educação pela educação nos estabelecimentos penais. “Defendemos que a política de educação nas prisões deve fazer parte das políticas estaduais de educação de jovens e adultos, conforme prevê a legislação nacional e os documentos normativos internacionais, dos quais o Brasil é signatário”, afirmou Ester.
Ester Rizzi também apresentou dados do Ministério da Justiça (Infopen, dez.2010), que mostram que o Estado de São Paulo apresenta a maior população carcerária do país (170.916 presos, 34% do total nacional) e uma baixíssima cobertura educacional (8,8%). Este dado mostra-se mais preocupante quando se observa informações sobre grau de escolaridade da população carcerária no Estado: a maioria dos presos (58%) não possui o ensino fundamental.
Abandono é de mais de 35 anos
Outra convidada da audiência, a diretora executiva da Fundação Estadual de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap), Lúcia Casali de Oliveira, declarou que há mais de 35 anos a Secretaria de Educação abandonou o sistema prisional, e, desde então, apenas a Funap se dispôs a ajudar na educação dos presos. Segundo ela, atualmente a fundação tem 900 salas e 15 mil alunos, mas é um desafio estimular o preso a estudar. “Não abrimos mais salas de aula por falta de interesse. Além disso, não existe dotação orçamentária para nosso trabalho e a verba de que dispomos vem do trabalho artesanal feito pelos nossos internos. Todos os pedidos de concursos que fizemos foram negados”. Ela acrescentou a necessidade de haver também cursos de capacitação nos presídios para garantir emprego aos egressos das cadeias.
Deputado apresenta sugestão
O deputado João Paulo Rillo sugeriu que fosse elaborado um documento com o conteúdo da audiência para ser entregue ao governo do Estado. A sugestão foi acatada e o documento também poderá ser assinado pelas entidades presentes no encontro.
Outra decisão é pela realização de uma nova audiência pública com representantes da Secretaria da Educação, entidades e membros da sociedade civil para discutir a adequação do marco normativo aprovado pelo Conselho Nacional de Educação no âmbito do Estado de São Paulo.
O encontro contou com a presença de representante da Pastoral Carcerária, Padre Valdir Silveira, e das entidades Conectas Direitos Humanos, Instituto Práxis de Direitos Humanos, Instituto Pro Bono e Instituto Terra, Trabalho e Cidadania, entre outras.
