Sem rumo
Os principais projetos tocados pela equipe do Palácio dos Bandeirantes, que deveriam ser apresentados como vitrine na campanha à reeleição, em 2014, ainda patinam. O governador Geraldo Alckmin entra na segunda fase do seu mandato sem uma marca forte na administração, com obras em ritmo lento e uma crise na área da segurança para administrar.
O trecho leste do Rodoanel, por exemplo, deveria ficar pronto em 2014, mas, segundo integrantes do governo, só 20% das desapropriações necessárias e 5% da terraplenagem foram realizadas até agora. No mesmo período, os trabalhadores das obras do trecho sul já haviam concluído 100% das tarefas.
Os investimentos na expansão e modernização do Metrô também estão abaixo do esperado – até outubro, foram aplicados menos de um terço dos R$ 4,9 bilhões previstos no início do ano.
Desde junho, o tatuzão que escavará a Linha 5 está parado no terreno da obra – deve começar a trabalhar apenas em agosto de 2013. O trabalho também está lento na construção da Linha 17, um monotrilho que ligará o Aeroporto de Congonhas à rede de trens urbanos. O governo diz que a obra só ficará pronta depois da Copa de 2014, o que contraria a previsão original.
Para amenizar as críticas à cobrança de pedágios nas rodovias estaduais, atribuída às gestões do PSDB, o governo vai apresentar como solução a ampliação do sistema Ponto a Ponto, que prevê a cobrança de pedágio de acordo com trecho percorrido.
No fim do ano passado, Alckmin havia dito que o governo começaria 2012 “pisando no acelerador” e anunciou investimentos de R$ 22 bilhões. Integrantes do governo já admitem que apenas 65% desse valor deve ser alcançado até o fim do ano.
Insatisfeito com o desempenho, o governador cobra que sua equipe entregue “medalhas”, ou seja, marcas em suas áreas.
Alckmin convocou seus secretários no dia 9 de outubro para reclamar que as pastas não haviam criado vitrines em dois anos de mandato. Disse ainda que a boa avaliação que a gestão acumulava à época era fincada basicamente na imagem de honestidade que tinha diante do eleitorado.
A interlocutores o governador criticou os secretários que são deputados – oito deles trabalham no governo. Disse que eles tinham mais vocação para discurso que para gerenciar o Estado.
Ações tardias na segurança pública
A cúpula do Palácio dos Bandeirantes também se debruça sobre a segurança pública. Alckmin estuda estender ocupações policiais como a da favela de Paraisópolis para tentar dar fim à guerra entre policiais e criminosos. O governo aceitará a colaboração da União em investigações sobre o crime organizado, mas tentará transferir a ela parte da responsabilidade pelo crescimento da violência, com o argumento de que falhas nas fronteiras permitem a entrada de armas e drogas no País. (com informações do jornal O Estado de S. Paulo)
Crimonosos comandam crimes de dentro dos presídios
Documentos obtidos pela revista Época mostram que a facção criminosa – PCC – comandou o assassinato de policiais militares de dentro de presídios de São Paulo
Documentos obtidos pela revista Época mostram integrantes do alto escalão da facção criminosa PCC – comandando a compra de armamento pesado e o tráfico de drogas a partir da cadeia. Os dados dos processos provam que as prisões brasileiras são uma das principais bases de atuação do crime organizado, realidade que se tornou um dos maiores desafios do país. A partir de suas celas que deveriam garantir a exclusão temporária de criminosos da sociedade e ser o ponto de partida de seu processo de regeneração , integrantes das organizações criminosas controlam as próprias prisões, mantêm-se à frente dos negócios de suas quadrilhas, ordenam a matança de policiais e civis e impõem-se sobre a autoridade do Estado.
O documento revela que as ações do PCC também já romperam as divisas do Estado, por meio de parcerias com outras corporações do crime, como a facção criminosa que atua no estado do Rio de Janeiro, Comando Vermelho.
Um delegado federal ouvido pela revita disse não descartar que os traficantes estejam produzindo crack nas fronteiras com a Bolívia e o Paraguai. O objetivo é reduzir o volume da droga e facilitar o transporte até os grandes centros. O crime organizado age como uma grande empresa: preocupa-se com eficiência, prazos de entrega, facilidade de transporte e, logicamente, o lucro. As pedras de crack são mais fáceis de carregar. Isso explica não apenas a opção por seu transporte, mas também a disseminação de seu uso e a dificuldade de apreensão.
Ameaças
Os documentos em poder da Justiça paulista revelam que presos ligados ao PCC sentem-se suficientemente confortáveis para enfrentar a autoridade regularmente, com ofensas, ameaças e demonstrações de poder. Um exemplo: o preso Cláudio Cognolato Batista, o Claudinho, também apontado como um dos líderes do PCC, foi alvo de um procedimento interno na Penitenciária Maurício Henrique Guimarães Pereira, em Presidente Venceslau, São Paulo. Claudinho foi acusado de ter desacatado e ofendido o diretor de segurança e disciplina do presídio, com termos chulos, comuns à realidade carcerária. Você é um bunda-mole, seu arrombado. Se eu quiser, eu tomo esta cadeia inteira, disse Claudinho, segundo a sindicância. A ofensa foi proferida depois de o agente constatar que a tela de proteção da janela da cela de Batista fora cortada. Ele e seu advogado negaram qualquer ameaça.
Estado foi alertado ainda em 2002
Outro documento reservado, obtido pela revista, revela que, ainda em 2002, a Justiça já alertava o governo do Estado sobre o fortalecimento do PCC dentro dos presídios paulistas. Ainda pouco expressiva no início, a facção passou a ser respeitada pela população penitenciária através de métodos cruéis utilizados contra inimigos, como ameaças de morte e extorsão de familiares dos presos, disse um ex-juiz corregedor de presídios. Segundo ele, o PCC aprimorou sua organização ao travar contato no cárcere com os nove presos estrangeiros responsáveis pelo sequestro do empresário Abílio Diniz, em 1989. Esse mesmo juiz relatou em documento que, em 2000, o Estado abriu negociações com líderes do PCC na Casa de Detenção de São Paulo, implodida dois anos depois pelo então governador, Geraldo Alckmin (PSDB). Procurado pela revista Época no mês passado, o juiz não quis comentar o teor de seu texto.
Segundo a Polícia Federal, as relações entre facções cariocas e o PCC continuam próximas. Em São Paulo, Marcos Camacho, o Marcola, que em 2006 comandou a onda de ataques contra as polícias, permanece no presídio de Presidente Bernardes. Segundo promotores, sua liderança sobre a organização segue inabalável. Não existe líder aposentado do PCC, afirma um promotor.
O PCC também acumula benefícios em sua relação com o Comando Vermelho. São Paulo tornou-se um entreposto para distribuição de drogas. Veículos com cocaína trazida das fronteiras vão para cidades paulistas, antes de chegar ao mercado consumidor do Rio de Janeiro. Especialistas que mapeiam o tráfico estimam que 80 toneladas de cocaína circulem por ano no Brasil. O quilo do entorpecente chega a US$ 10 mil na Região Sudeste. O negócio ilegal é uma indústria estimada em US$ 800 milhões. Para uma atividade de tamanha envergadura, tão valiosas quanto a própria droga são as armas. Segundo um relatório da PF enviado à Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo em março de 2011, interceptações telefônicas da Operação Leviatã flagraram líderes do PCC na negociação de armamentos.
Procuradas pela reportagem, as autoridades paulistas não quiseram comentar as informações obtidas pela revista. O secretário Lourival Gomes informou que não concederia entrevistas. O novo secretário de Segurança de São Paulo, Fernando Grella, também não quis dar declarações. (com informações da Revista Época edição 3/12/12)
