Descaso
Parlamentar cobra modernização da frota, com aquisição de novas embarcações, menores, mais ágeis e adequadas ao transporte das milhares de pessoas que utilizam o serviço diariamente
O ano é 1982. No Brasil, pela primeira vez em quase 20 anos, são realizadas eleições diretas para os governos estaduais. A Argentina invade as Ilhas Malvinas, dando início à guerra contra a Inglaterra pela posse do arquipélago. Os brasileiros choram a morte de Elis Regina, enquanto o mundo assiste à explosão do fenômeno Michael Jackson, com o álbum Thriller, o mais vendido da história. Milhões vão aos cinemas assistir ao filme E.T.. No futebol, a seleção brasileira dá espetáculo, mas cai diante do futebol de resultados da Itália e seu goleador Paolo Rossi. É inaugurada a Hidrelétrica de Itaipu.
Foi neste contexto, 27 anos atrás, que o Governo Estadual entregou, pela última vez, barcas novas para as travessias marítimas de pedestres. Munduba, Embaré e Canéu são os nomes das mais novas embarcações. A idade média da frota atual é 31,6 anos. As denúncias são da deputada estadual Maria Lúcia Prandi (PT).
A parlamentar voltou a cobrar a concretização de um projeto de renovação da frota, com aquisição de embarcações modernas, menores, mais ágeis. A travessia de pedestres mais problemática é Santos – Vicente de Carvalho, utilizada, diariamente, por 14 mil passageiros, informa a parlamentar. Superlotação nos horários de pico, demora, lanchas fora de circulação por problemas mecânicos, barulho excessivo e estado de conservação precário são problemas vivenciados diariamente pelos usuários.
Em 31/3/2009, somente operavam na travessia Santos Vicente de Carvalho três lanchas: Adhemar de Barros, Paecará e Piaçaguera. A primeira está em operação há 47 anos. A Paecará é de 1970 e, a Piaçaguera, de
É um absurdo o que se vê. O desrespeito às pessoas é total. Nos últimos 27 anos, a demanda cresceu progressivamente e o Estado mantém as mesmas embarcações em operação. É preciso dar um basta a esta história de descaso, enfatiza a deputada, que protocolou dois documentos na Assembléia Legislativa. Em um deles, propõe a implantação de um projeto de modernização da ligação Santos Vicente de Carvalho. Em outro, cobra informações a respeito dos planos e estudos feitos por técnicos da Dersa ao longo dos últimos anos, que nunca saíram das gavetas.
Há levantamentos realizados por funcionários da estatal que apontam as soluções para os problemas vividos nesta ligação e em todo o sistema de travessias litorâneas do Estado. O que falta é vontade política para colocar em prática ações que irão se reverter em melhoria da qualidade deste meio de transporte, essencial para milhares de pessoas, destaca a parlamentar, ressaltando que perdeu as contas das vezes em foi procurada por usuários indignados com o desrespeito constante a que são submetidos.
Segundo a deputada Prandi, como são muito antigas e trabalham no limite, as embarcações quebram constantemente, agravando ainda mais a situação que já é caótica. Não foram poucas as vezes que estas barcas ficaram à deriva no meio da travessia, causando pânico entre os passageiros. Já houve colisão com outras embarcações. Há cerca de dois anos um homem morreu em decorrência do conflito entre usuários e funcionários da operadora do sistema, que também sofrem com a situação.
LIGAÇÃO SECA
Nos documentos enviados ao Governo Estadual, a parlamentar já antecipa que a possível construção de uma ligação seca entre Santos e Guarujá não terá praticamente nenhum reflexo para a vida dos pedestres que dependem das barcas. A não ser que o Estado crie uma linha de ônibus com dezenas de veículos para dar conta da demanda hoje precariamente atendida pelas barcas, argumenta a deputada Prandi, ressaltando que é defensora da ligação marítima, caminho mais curto, desde que o serviço seja eficiente.
Faço este alerta, porque atualmente, quando se cobra providencias para melhorar o sistema de travessias, o remédio apresentado é sempre o mesmo: a ligação seca entre Santos e Guarujá. Parece que o túnel ou a ponte vão resolver todos os problemas e isto não é verdade. E mais: ainda que houvesse relação, as pessoas não podem continuar sofrendo à espera de uma obra, cujos estudos técnicos e certificações ambientais ainda nem estão prontos, conclui a parlamentar.
Capitania apura denúncias da deputada. Usuários confirmam superlotação e outros problemas sérios no serviço
A Capitania dos Portos está apurando com máxima prioridade as denúncias apresentadas pela deputada estadual Maria Lúcia Prandi (PT), em ofício enviado ao órgão no último dia 4 de março, onde aponta uma série de problemas nas barcas que realizam a travessia de pedestres entre Santos e Vicente de Carvalho. A informação foi enviada em 31/3 à parlamentar pelo capitão-de-fragata Marcelo Ruas Nogueira, chefe do Departamento de Segurança do Tráfego Aquaviário.
No documento, o militar informa que a operação já apresenta resultados práticos, uma vez que algumas embarcações da Dersa tiveram que ser retiradas de tráfego, para realizar reparos. Ainda segundo Ruas Nogueira, nos próximos dias, a parlamentar receberá um ofício apresentando resultados, com maiores detalhes, referentes à fiscalização pela Capitania.
A ação da Capitania dos Portos é mais uma confirmação dos problemas que milhares de pessoas sentem na pele todos os dias. Não vamos dar trégua até que este serviço tenha a qualidade e eficiência que a população merece. Isto é ponto de honra em minha atuação na Assembleia Legislativa, enfatiza a deputada Prandi, que tem uma história em defesa dos usuários do sistema de travessias litorâneas.
Esta semana, a parlamentar voltou a cobrar melhorias na travessia Santos Vicente de Carvalho. Em Indicação enviada ao governador José Serra, Maria Lúcia propõe um amplo projeto de modernização do serviço, o que inclui a compra de novas barcas. Além disso, a deputada também enviou Requerimento à Secretaria Estadual de Transportes, cobrando informações a respeito dos planos e estudos feitos por técnicos da Dersa ao longo dos últimos anos, que nunca saíram das gavetas.
SUPERLOTAÇÃO
Bastam alguns momentos nas proximidades dos terminais da travessia de barcas que ligam às ilhas de São Vicente e Santo Amaro, para se coletar uma série de depoimentos sobre os problemas enfrentados todos os dias pelas cerca de 14 mil pessoas que usam o serviço (dados oficiais da Dersa). Eles falam que é este número, mas na prática é muito mais. Na verdade, acredito que sejam quase 30 mil pessoas, afirma Vanuza de Medeiros, moradora de Vicente de Carvalho, que usa o sistema diariamente para chegar ao trabalho.
Segundo ela, a superlotação das barcas nos horários de pico é o problema mais grave. Outro dia, era tanta gente dentro que o piso ficou nivelado com o mar e começou a entrar água. Algumas pessoas saíram e ficaram aguardando a outra barca junto ao ponto de atracação, sem qualquer proteção, relata. O momento de medo é confirmado por seu companheiro de trabalho Edvan dos Santos, que também estava na embarcação nesse dia. As pessoas vão espremidas até nas escadas, acrescenta.
Josué da Silva de Oliveira, que também usa as barcas para se deslocar entre Vicente de Carvalho (onde mora) e Santos (onde trabalha), acrescenta a péssima conservação da frota. Em pelo menos cinco vezes, houve pane nos motores e a barca em que eu estava ficou à deriva. Foi preciso que outra viesse para rebocá-la. A gente passa muito medo e pede a Deus que nada de mais grave aconteça, relata. A superlotação volta a ser tema no relato de Josefa Vanda Batista Menezes, que reside no Jardim Santense (Guarujá).
É muito grave mesmo. Espero que não seja preciso um acidente para que as providências sejam tomadas. Nós que usamos este serviço todos os dias não aguentamos mais esperar por providências, relata indignada, lembrando que os atrasos são outro problema. Não cumprem horários, o que atrapalha a gente que precisa trabalhar, estudar, acrescenta Josefa, defendendo ainda um espaço específico para os ciclistas.
BARATAS
Outra reclamação comum a todos os usuários é a grande quantidade de baratas nas embarcações. Deveriam fazer pelo menos uma dedetização. Qualquer dia vou trazer um inseticida de casa, ironiza Vanuza de Medeiros, que perdeu as contas das vezes em que foi alvo dos insetos. Nos terminais, goteiras e banheiros com mau-cheiro, além do forte calor. Nos dias mais quentes, o de Santos parece um forno. Não é arejado e não tem ventiladores. Com aquilo lotado de gente, beira o insuportável, acrescenta Vanuza.
ACESSIBILIDADE
A acessibilidade ao terminal no lado de Santos é outro problema. Não há semáforo na avenida Eduardo Guinle e as pessoas cruzam a via, contando apenas com a proteção da faixa de segurança e o bom-senso dos motoristas das enormes carretas que trafegam pelo local. Além disso, o movimento de trens é constante e muitas vezes as composições param, fechando a passagem. Algumas pessoas se arriscam atravessando entre os vagões. Sem condições adequadas de acesso e insegura, a passarela existente no local quase não é usada e virou um elefante branco.
São muitos os problemas e a população não pode continuar esperando, à mercê da sorte e contando com a proteção Divina porque os homens responsáveis pelo serviço não fazem o que precisa ser feito. O Estado não pode continuar empurrando com a barriga uma solução para estas questões que interferem no cotidiano e coloca em risco a segurança de milhares de pessoas. É um descaso absurdo que precisa acabar, é taxativa a deputada Prandi.
PROPOSTAS
Baseada em sugestões dos próprios usuários e estudos de técnicos da Dersa, a parlamentar defende a renovação da frota com embarcações mais modernas e ágeis. Outra necessidade apontada é a ampliação dos atracadouros para que possam receber, pelo menos, duas barcas simultaneamente. Hoje, só há espaço para uma. Uma nova reforma e a manutenção permanente dos terminais também são reivindicadas. Além disso, a melhoria da acessibilidade aos pontos de embarque/desembarque.
Em Santos, a deputada Prandi vai solicitar de forma urgente à Prefeitura e à Codesp que façam uma recolocação dos paralelepípedos sextavados juntos aos trilhos de trem, que estão desalinhados e prejudicam a passagem de cadeirantes. Outra reivindicação é que seja estuda a colocação de um semáforo com botão de acionamento pelos pedestres. Uma obra mais complexa para eliminar o risco no cruzamento da via, seria recuperar a passarela, dotando-a de acessibilidade plena e fazendo sua interligação com o terminal.
