Degradação ambiental
Obras do Rodoanel aterraram mais de 500 metros da represa Billings, além de minas e olhos dágua
Devastação. Esta é a palavra que define os problemas ambientais enfrentados pelos bairros Los Angeles, Jardim Represa, Parque Imigrantes e Jardim Canaã, em São Bernardo, causados pelas obras do trecho Sul do Rodoanel. Além do desmatamento de milhares de árvores nativas da Mata Atlântica, a construção da Ponte Billings, de 1.800 metros, varreu do mapa a Prainha, área de lazer da população local, e assoreou mais de 500 metros dos braços da represa. Barcaças, vigas de ferro, concreto, entre outros restos de construções, foram deixados no espaço como herança para os munícipes.
Esta é, sem dúvida, a maior degradação ambiental que a represa Billings sofreu nos últimos anos. Foram descarregados vários caminhões de pedras na área. Um crime sem precedentes, disse Evaldo Pereira Carvalho, presidente da Associação Desportiva Social e Cultural Los Angeles e Canaã. No contrato de autorização da obra, as vigas de sustentação da Ponte Billings deveriam ser construídas com a ajuda de barcaças, para não danificar o meio ambiente. Porém, não foi isso que aconteceu.
Para acelerar as construções, conter os atrasos e entregar o Rodoanel em abril, antes de José Serra (PSDB) sair do governo para ser candidato à Presidência, vários crimes ambientais foram cometidos. O meio ambiente foi prejudicado para a obra ser usada como propaganda eleitoral. Com o aterramento da represa, para se construir a ponte, a Billings perdeu alguns milhares de metros cúbicos da capacidade de armazenamento. Mataram essa parte da represa, desabafou Carvalho.
O lago Caulim, que era usado pela população local como área de lazer, também foi liquidado. O lago, que até então era limpo, passou a receber uma grande quantidade de esgoto. Antes tomávamos banho lá, recordou o morador. Os munícipes querem que o Ministério Público e os demais órgãos competentes tomem providências. A Dersa não pode sair impune. Precisa cumprir os compromissos assumidos, exigiu Carvalho.
Procurada por três dias pela reportagem, a assessoria da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A) não se manifestou sobre as denúncias até o fechamento desta edição.
Compensação
Apesar de um convênio ter sido assinado entre a Prefeitura de São Bernardo e a Dersa em abril, até o momento nenhuma compensação ambiental foi iniciada. Naquela região não existe nenhuma política de recuperação. A Dersa fala em construir um parque e fazer reflorestamento, mas até agora nada, revelou o vereador Paulo Dias (PT).
Desde a assinatura do documento, o secretário de Transportes de São Bernardo, Oscar José Gameiro Silveira Campos, acompanha de perto as intervenções do órgão na cidade. Pelo cronograma, as obras de compensação ambiental não estão atrasadas. A expectativa é que as intervenções se iniciem em 2011, explicou. Neste momento, as obras estão em processo licitatório e em fase de elaboração de projeto. Tudo sob o acompanhamento da Prefeitura, comentou Campos.
O convênio prevê investimento de R$ 91 milhões da Dersa em obras de compensação ambiental naquela região, como o plantio de 6,3 milhões de mudas e as implantações dos parques Billings e Riacho Grande. Na avaliação do secretário, é difícil estipular valores para os danos que o município sofreu. Com o convênio conseguiremos o mínimo de compensação ambiental de que a cidade precisa. Podemos dizer que o recurso contemplará os locais mais afetados, argumentou.
A previsão é que 44% dos investimentos sejam destinados para a construção do Parque Billings. De acordo com Carvalho, não existe espaço físico na Prainha que justifique o investimento de R$ 40 milhões da Dersa em um único local. Essa área é de proteção ambiental, construir um parque aqui só deixará o espaço mais exposto e devastado, observou.
O presidente da Associação Desportiva Social e Cultural Los Angeles e Canaã acredita que a melhor solução é diluir o recurso em várias ações. O local deve ser devolvido à natureza e a verba usada para recuperação ambiental e social de todos os bairros, finalizou Carvalho.
fonte: Jornal ABCD Maior – 30/10/2010
