TV Cultura: deputado questiona baixa audiência e queda da receita em reunião de Conselho

08/08/2011 17:29:00

TV pública?

 

Em reunião do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta, nesta segunda-feira (8/8), o deputado Simão Pedro, presidente da Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa e membro do Conselho, questionou sobre a queda da audiência e da receita da TV Cultura, como vêm sendo mostradas em reportagens publicadas pelos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de São Paulo.

Simão também afirmou que vai solicitar uma audiência com João Sayad, presidente da Fundação. “Se preciso for, irei protocolar requerimentos nas Comissões de Comunicação, Ciência e Tecnologia para convocar o presidente a dar esclarecimentos”, afirmou o deputado.

Leia abaixo reportagem do jornal Folha de S. Paulo (8/8/2011):

Cai a participação de dinheiro do governo no orçamento da TV Cultura

A participação da verba do governo de São Paulo na TV Cultura caiu quase pela metade nos últimos anos. Em 2003, o dinheiro estatal correspondia a 81,53% do total de recursos obtidos pela Fundação Padre Anchieta, que administra a emissora pública e que captou 18,47% do orçamento daquele ano junto à iniciativa privada.

Desde 2008, a situação se inverteu. Os recursos próprios superaram o valor destinado pelo Estado: do total de mais de R$ 192 milhões, foram 51,78% da fundação contra 48,22% do Estado.

Em 2009, essa diferença se intensificou, com a porcentagem da fundação chegando a 56,89%. Houve um pequeno retrocesso em 2010 (52,8%) em virtude do repasse de R$ 13 milhões do governo para suprir gastos com demissões. Em valores absolutos, houve redução de recursos em 2004 e em 2006. A previsão de verba estatal para este ano é de R$ 84 milhões -35% a menos que em 2010. A diminuição de repasses foi adotada em 2008 como política do governo para controlar os gastos da fundação. Esses dados fazem parte de um estudo feito pelo deputado Simão Pedro (PT), que preside a Comissão de Educação e Cultura e ocupa uma das 40 vagas no Conselho Curador.

Para ele, a baixa audiência é fruto desse processo. “A TV se sente pressionada a buscar recursos no mercado, que é instável. Diminui a qualidade dos programas e, com isso, o interesse do público.”

Hoje, na reunião mensal da fundação, será apresentado um relatório sobre a audiência, que

sofreu uma redução de 27% em um ano. O presidente da Fundação Padre Anchieta, João Sayad, pediu pesquisa ao Ibope para avaliar a perda de público. O levantamento, no entanto, ainda não ficou pronto.

Com menos dinheiro do governo, a emissora busca recursos com venda de publicidade e enxuga gastos. Novas produções ficam comprometidas. Nesse período, uma das poucas estreias foi o “Quintal da Cultura”. O foco fica naquilo que já faz sucesso, caso de “Cocoricó”, que teve nova temporada encomendada.

Os números ainda mostram redução dos investimentos do canal. De 5,45% em 2004 passaram para 2,89% em 2010, que foram destinados a ampliar a rede de transmissão e implantar a TV digital.

 

Leia a seguir reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, publicada em 7/8/2011:

Audiência e receita da TV Cultura desabam

A média de audiência atual da TV Cultura, mantida pelo governo do Estado, é a mais baixa da História. Corresponde a 0,8 ponto, o equivalente a 47,2 mil domicílios. O “traço” de audiência se reflete na arrecadação da emissora: em maio, sete meses após a eleição do ex-secretário de Cultura João Sayad como presidente da Fundação Padre Anchieta, a receita obtida foi 58% menor que o previsto. Em 12 meses, período em que cortou 993 vagas (46% dos funcionários fixos), a Cultura perdeu 27% de sua audiência média.

Esse cenário não é uma visão externa pessimista dos rumos da fundação. Trata-se de relatório interno produzido pela emissora, ao qual o Estado teve acesso com exclusividade. Produzido para exame da direção e do Conselho Curador, o relatório pinta um retrato pouco animador da atual gestão.

Segundo a emissora, o documento “prova momento de transparência” na administração.

Historicamente, as audiências da Cultura eram baixas, mas nunca chegaram a tal patamar. Raros programas ultrapassam 1 ponto de audiência (share de 1,8). A queda média de audiência é de 26% em um ano, e a Cultura ficou 21 dias no penúltimo lugar e 10 dias no último na Grande São Paulo em maio.

Todos os indicadores do relatório são negativos. A meta de arrecadação de fontes externas, em maio, era de R$ 4,7 milhões, e a emissora conseguiu levantar R$ 1,99 milhões. O governo investe R$ 84 milhões na Cultura, que tem dividido com a TV Gazeta os últimos lugares de audiência.

Ao assumir, Sayad adotou como estratégia enxugar custos e manter o equilíbrio das contas com corte de pessoal. “Mas corremos o risco de a TV não aguentar esse processo. É impossível de sustentar”, afirmou um conselheiro, que prefere não se identificar. “Embora haja corte brutal de funcionários, há um aumento inexplicável de despesa com funcionários afastados.”

O estudo aponta que 22 funcionários recebem pela emissora para, na verdade, atuarem na Secretaria de Estado da Cultura. Dividindo-se o valor pago mensalmente pelo número de empregados, chega-se a salários mensais de R$ 13 mil – certamente, funcionários da cúpula da secretaria. No Conselho, que antigamente não tinha remuneração, dois funcionários recebem R$ 45 mil.

Disputa. Os problemas de gestão da TV Cultura expõem com nitidez as divergências internas do PSDB, partido que controla a emissora desde o fim dos anos 1990. Em cinco anos, a emissora teve três presidentes, cada um ligado a um governador.

Marcos Mendonça, no período 2004-2007, começou o mandato no governo Geraldo Alckmin, mas teve de sair por exigência de José Serra. O tucano escolheu como substituto o jornalista Paulo Markun, que o desagradou progressivamente, por não conseguir “enxugar” a televisão no ritmo almejado.

Ao deixar o governo para disputar as eleições, em 2010, Serra encaminhou uma nova mudança: instruiu o sucessor, Alberto Goldman, a apoiar a eleição do então secretário de Cultura, João Sayad, para o comando. Mas o custo político que o desmonte da Cultura traz, segundos fontes, tem desagradado ao atual governador.

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